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Master Of None - A importância da comédia em não ser comédia

  • Foto do escritor: Silézio Luiz
    Silézio Luiz
  • 11 de out. de 2017
  • 3 min de leitura

Aziz Show

Quando eu era guri, minha mãe me contou aquela fábula do terror do chinelo virado. Tal conto consistia basicamente da premissa, você não pode deixar seu chinelo de cabeça pra baixo, senão algo terrível acontecerá com seu pai e sua mãe, um pra cada pé de chinelo, nunca especificado quem era o pé esquerdo ou o pé direito. Isso é uma tática narrativa muito usada, quando o narrador, possuidor de um conhecimento (organização e limpeza) tenta passá-lo da forma mais simples pra qualquer idiota (no caso eu criança) de forma efetiva.

Lembro de uma vez que dei um super salto (gordinho que só dando super salto, imagina, kkk) pra desvirar os chinelos do outro lado da cama para salvar a vida de meus amados Papai e Mamãe. Veja lá se qualquer criança normal brasileira faria isso só pra manter os calçados organizados.

Então, é meio disso que se trata Master of None, e também não se trata de nada disso.

Esse texto, não é em sua essência uma análise, mas sim uma reflexão que tive ao pensar sobre a série, que de cara já indico fortemente.

É histórico que a comédia é muitas vezes usada para realizar críticas sociais ou mesmo contra os poderosos, é uma forma tradicional de eufemismo para protestos desde sempre. Master of None, criada e estrelada pelo comediante Azis Ansari não é sempre engraçada, você não vai morrer de rir, mas é uma série para ser lida, e como qualquer leitura, depende de vocabulário e referências, portanto pode ser apreciada ou odiada em diversos níveis, há piadas que são especificamente de nichos e há, claro, momentos bem engraçados, mas alguns destes sequer são piadas em sua concepção.

Mas é uma série onde a crítica social se dá mais de uma forma intimista, você não pensa as ações da sociedade somente, mas muito mais as suas próprias ações.

E se você se identifica com o Dev, interpretado por Azis Ansari de uma forma única, e quando digo única significa as vezes magistral e as vezes beirando a não interpretação (que aliás, faz parte da série ter atores sendo eles mesmos, e que no contexto é algo ótimo), você se vê ainda mais imerso em reflexões sobre seus relacionamentos amorosos, suas relação com seus pais e amigos, suas decisões profissionais.

E o grande mérito disso tudo, é exatamente a forma como isso é feito, por não ser uma série reconhecidamente dramática, e em teoria naturalmente de comédia, ela aborda temas diversos, alguns muito pesados, da mesma forma que uma mãe aborda os deveres de seus filhos, de forma que quando menos você espera você se vê pensando naquilo, mesmo que tenha sido exposto pra você de uma forma leve e majoritariamente divertida.

Ocorreu de eu mudar alguns hábitos inclusive, sempre que saio à noite, e vejo uma mulher sozinha vindo em minha direção, tento mostrar uma postura debochada e agradável, já que meus 1,80 metros de altura somados a minha barba e natural cara de mau podem ser aterrorizantes pra uma mulher sozinha à noite, e eu só fui me tocar dessa realidade depois do ótimo episódio Perspectivas, na primeira temporada da série.

A série navega no mar do universo de coisa alguma pra temas extremamente sensíveis com muita naturalidade, indo sem dificuldade do drama pra alguma piada boba, e isso é muito bom, você não se sente obrigado a rir, nem a chorar, você segue naturalmente a série, como segue sua vida.

A segunda temporada sobe o nível em muitos aspectos técnicos e tem episódios artisticamente fantásticos e outros com roteiro incrível, mas sem nenhuma grandiloquência, tudo, muito natural, fazendo com que você vá da admiração dos planos e tomadas para a reflexão e risada sobre seus fracassos amorosos e cenas simplesmente embasbacantes que vão ficar muito tempo na sua cabeça (cena do táxi, no spoilers, vocês saberão se virem).

Os personagens são entregues da melhor maneira para se encaixarem no roteiro e em meio a sentimentos conflitantes pela Francesca na segunda temporada, (interpretada por Alessandra Mastronardi) vence a vontade de fazer um funko pop dela e dormir abraçado com ele. Não atoa é uma obra muito comparada com os filmes de Woody Allen e os fãs desse cineasta com certeza irão adorar.

É notável o impacto dessa série e fica a isca para a produção de mais obras como essa para podermos debater e aprender mais sobre a sociedade, sobre nós mesmos e sobre nada, sem nos digladiarmos nas redes sociais, mas com bom humor e naturalidade, dialogando, rindo, pensando e suspirando as vezes, sempre que possível nos surpreendendo e nos reavaliando.

 

Post scriptum: O episódio Ny i love you é magnificentemente magnífico. Just Because!

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