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Perfil - Neill Blomkamp

  • Foto do escritor: Silézio Luiz
    Silézio Luiz
  • 8 de jan. de 2018
  • 6 min de leitura

Fantasia, ficção científica, realismo, cada um desses tipos de narrativa tem uma função. A fantasia é mais imaginativa, trabalha mais possibilidades longe das quais a realidade nos prende, traz esperança e sonhos.

A ficção científica, é a realidade, misturada com alguns conceitos da fantasia, onde projetamos como esta realidade seria com o advento de novas possibilidades que a ciência abre caminho para, e essa mesma ciência deve reger. Realismo, leva preponderantemente (palavrão "rapá") à reflexão, primeiro pelo próprio contexto em si e também por uma virtude narrativa muito boa, a empatia pois a realidade é diversa, e uma narrativa realista acaba por nos apresentar realidades diferentes da nossa. E creio que a importância da obra de Neil Blomkamp se dá em mesclar essas formas de contar histórias. De abraçar um lado imaginativo, razoavelmente possível e duro como a realidade é.

Escapismo

Já citei aqui diversas vezes como atualmente estamos cada vez mais nos esquivando das nossas realidades e da realidade a nossa volta, especialmente temos muita dificuldade em aceitar a realidade dos outros. Vivemos num mundo de sonhos, que muitas vezes edificamos em cima de redes sociais e valores frívolos e temos dificuldade de entender que a outras situações sendo vividas pelas outras pessoas, que não só são diferentes da nossa realidade, mas são muito mais diferentes ainda dos sonhos que estamos vivendo por bem ou por mal.

Quem é Neil Blomkamp?

Nascido em Joanesburgo, em 12 de setembro de 1979, na África do Sul, ainda na época do apartheid. Sua família se mudou para o Canadá, mais especificamente Vancouver, onde iniciou os estudos na área de cinema. Trabalhou com efeitos visuais, dirigiu um ou outro curta-metragem e em determinado momento foi cotado para dirigir um filme de Halo em parceria com seu amigo Peter Jackson. O projeto infelizmente não foi adiante, mas podemos ter um gostinho do que Neil faria com a saga de Master Chief nesse curta, por ele dirigido.

Esse curta é uma peça fundamental para entender a importância do diretor no cinema, mas voltamos a ele um pouco mais adiante.

Quando o projeto do que seria o primeiro longa de Blomkamp ruiu, Peter Jackson decidiu então produzir Distrito 9, relacionado à outros dois curtas de autoria de BlomKamp e o colocou na direção. Neil, é um diretor muito focado na ambientação e podemos ver a palavra environment ser usada frequentemente em suas entrevistas e declarações no geral. Isso marca muito seus trabalhos. Ambientação que possibilite novas idéias, o mais próximo possível da realidade.

Obra

Possui, apenas 3 longas em seu currículo, tendo recentemente sido coitado para um filme da série Alien, que infelizmente não vingou. Possuo os três filmes, Distrito 9, Elisyum e Chappie e me tornei fã fervoroso desde o primeiro, embora deva aceitar que em há uma queda nos dois últimos, entendo que é uma queda do extraordinário para o bom.

Distrito 9 é uma história que descreve uma situação muito possível, que é você ficar sem combustível num lugar estranho, com um adendo de que nesse lugar não tem combustível para você, então você e os tripulantes do seu veículo estão ilhados, num lugar diferente, e hostil e ah, vocês são aliens. Aliens presos na terra, sem ter como voltar para seu planeta, numa região de extremas diferenças sociais, cercados por racismo e ódio por todas as direções. Qualquer lugar no mundo pode ser assim, mas entendemos o histórico da Àfrica do Sul como um agravante. A obra trata das relações de humanos com aliens, de humanos com humanos e de aliens com humanos, como interagiriam nessa situação e como se explorariam. O filme recebeu 4 indicações ao Oscar e alçou Neil ao conhecimento da industria.

Em Elysium as diferenças sociais são abordadas mais uma vez, só que agora o contexto envolve a sociedade bem sucedida e privilegiada vivendo numa base espacial e explorando recursos no planeta abandonado, após ser explorado em demasia e devastado. Claro que quem faz a exploração dos recursos ainda existentes no planeta é a classe mais pobre, sem acesso a condições descentes de vida e principalmente à saúde, estando constantemente expostos à radiação, trabalhando em fábricas para construírem as máquinas que servem os habitantes da estação Elysium, que vejam bem vocês, tem a cura do câncer a disposição com o estalar dos dedos e recusam a partilhar essa estrutura com o povo da terra. É o filme com mais problemas do diretor, tendo diversas pontas soltas, mas ainda assim com sua assinatura visual única, ambientação e mensagem pungentes.

Chappie, o pinóquio moderno é o que se pode dizer como a primeira fábula de Neil Blomkamp, entrando mais fundo em temas filosóficos e existenciais sem deixar a crítica social de lado. Conta a história de um robô policial que após ser avariado em ação, se perde, e é "adotado" por um criminoso e aprende com uma família não convencional a se tornar humano. Não foi tão elogiado pela crítica como Distrito 9, mas se saiu bem melhor do que Elysium embora ainda não tenha garantido a continuidade das obras do diretor no cinema, afinal, filmes precisam de bilheteria, e bilheteria vem do grande público, e o grande público quer escapar de tudo o que o diretor aborda.

Parcerias

Além da relação com Peter Jackson, Neil, usa reincidentemente em seus filmes atores não tão famosos, e até mesmo pouco palatáveis para um mercado ligado a valores estéticos como Sharlto Copley que passa longe de ser um galã mas atua magistralmente. Também trabalha com etnias variadas, escalando Dev Patel e outros em papéis de destaque. Teve espaço até pro nosso competentíssimo Wagner Moura e Alice Braga, e falamos disso daqui a pouco. Não só ele escala esses atores como dá papéis de destaque e protagonismo a eles, misturando-os numa panela de estrelas como Hugh "Wolverine" Jackman, Sigourney Weaver, Matt Damon e Jodie Foster.

Construtor de mundos

Embora tenha sempre atores muito capazes e talentosos no elenco, há de se destacar que o talento de Neil é construir um mundo, uma ambientação, e talvez ele se foque tanto nisso, como sempre demonstra, que talvez ou erre a mão ou ainda não tenha experiência para dirigir pessoas. Com isso notamos que alguns personagens reféns unicamente de seus atores, e dependendo do personagem a ser retratado, por mais talentoso que o ator seja, sem alguém para o dirigir, ele pode não entender o que deve passar em sua atuação (que o diga nosso amigo Anthony Hopkins). E com isso, por mais que as vezes os atores estejam entregando uma atuação pelo menos competente, acaba não casando com o mundo proposto e com a atuação dos demais atores.

Importância

Agora voltamos ao curta de Halo e a importância de Neil Blomkamp para o cinema e para a arte em geral. Halo, é um sucesso estrondoso nos Estados Unidos, vendendo absurdamente por aquelas bandas e lá é com certeza um console seller (aquele jogo pelo qual você compra o video game). Boa parte desse público está em militares e ex militares, bem como suas famílias, e obviamente um monte de jovens, muitos em idade de prestação de serviços militares, ou muito próximos disso. Embora Halo seja sobre uma guerra, com uma boa carga dramática, pouco do que é a guerra de verdade passa pela cabeça dos jovens quando estão matando seus inimigos. E no curta de Neil, podemos sentir o peso da guerra, por mais que seja uma guerra fantástica. Longe de vangloriar a violência, ou mesmo a romantizar como em algumas obras sobre mafiosos, o que Blomkamp nos propõe é acordar, é refletir sobre o que nós fazemos enquanto humanos convivendo com outros humanos. A que ponto nossas ações podem nos levar, o que é ser humano de verdade, as alegrias, vicissitudes, tristezas, embaraços e desafios da vida de verdade. É como alguém querendo nos ensinar nos fazendo embarcar na pele de outrem, só que sem nos ferirmos. Hoje em dia, talvez mais do que nunca, precisamos de um cineasta que faça isso, sem ser um oscarizável (pois isso romantiza a visão das coisas duras) ou um documentarista, por pois mais bem feito que o documentário seja, há o problema de a ambientação nos ser tão distante e desconexa da nossa realidade e da nossa imaginação que isso nos dificulte a empatia. E é exatamente misturando as narrativas citadas no início desse texto que Neil Blomkamp vence essa barreira e nos premia com obras que as vezes temos dificuldade de deglutir, mas muito saborosas à alma.

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