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Live at madison square garden e Buried alive - Duas desculpas pra eu falar de novo do Azis Ansari

  • Foto do escritor: Silézio Luiz
    Silézio Luiz
  • 20 de dez. de 2017
  • 5 min de leitura

"Alor" você! Como vai demorar até sair a terceira temporada de Master of None eu precisei arrumar um desculpa pra falar do Azis Ansari aqui de novo. E arrumei não só uma mas duas. Há dois espetáculos do tipo stand up comedy disponíveis na Netflix (15/12/17) com Azis e vou usá-los de gancho pra tecer aqui algumas idéias sobre humor, humoristas, stand up e tudo mais. Então "toquemos o carro".

Primeiro, pra deixar bem claro e tacar uma polêmica declaro que não gosto de stand up comedy. São raríssimos as apresentações do estilo que eu posso dizer que gosto ou gostei em algum momento. E com isso, acabo por não gostar da imensa maioria dos comediantes que vivem só, única e exclusivamente disso.

Primeiro, obviamente, porque se não gosto do estilo e tudo que a pessoa faz é nesse estilo, automaticamente não gosto do humor dela e segundo que eu sou daqueles que crê que um humorista é um dos tipos mais versáteis e capazes e com isso não deveria se limitar.

Todavia antes de continuar, vamos entender o que é humor, e quais são seus estilos.

Xupinhado direto da wikipédia: Stricto sensu, é um determinado estado de ânimo cuja intensidade representa o grau de disposição e de bem-estar psicológico e emocional de um indivíduo.

Isso nos é familiar quando pensamos em bom humor e mau humor, mas qual a relação do humorista, de natureza cômica com o humor?

Isso dá pano pra manga, o humor é estudado desde tempos imemoriais (vi Cavaleiros do Zodíaco Saga de Hades recentemente, tinha que incutir essa frase em algum lugar) por um bando de desconhecidos como Aristóteles e São Tomás de Aquino, constando análises de ironia à sátira. Mas nos atendo ao basicão, o senso comum, nele humor é comicidade. E o que é cômico? Vamos simplificar e dizer que é engraçado. Assim, um humorista usa de seus textos e habilidades sejam corporais ou intelectuais para expressar comicidade e nos causar o estado de humor de relaxamento, descontração e alegria. Parece simples, mas com base em tudo o que desenvolvemos até agora como podemos diferir por exemplo o humor inglês de Douglas Adams para a comédia em pé?

Podemos entender a comédia e o humor como representações do contexto em que se inserem, da cultura local e dos acontecimentos sejam do cotidiano ou numa escala maior. Assim, na comédia em pé podemos ter tanto piadas onde o humorista aborde coisas corriqueiras como situações de transporte púbico, quanto os que baseiam suas piadas na gozação a outrem, como falar de gordos, pobres e etc. Há ainda uma possibilidade na comédia em pé que é a de protesto, onde o interlocutor expõe uma situação a qual ele quer protestar e faz o espectador perceber o quão absurda ela é, e com isso o choque de realidade leva ao riso por exemplo. Essa é uma das expressões primordiais do humor, que era a única forma de pessoas oprimidas se expressarem contra seus opressores, sem sofrer censura ou qualquer outro tipo de sanção ou punição. Usa-se nessa forma de humor, da ironia, sarcasmo e em boa parte das vezes a graça não vem direto do discurso do humorista, pode vir do desconforto gerado pela situação apresentada, pela controvérsia lógica do absurdo com o fato exposto. E esse é o motivo de eu não gostar da comédia em pé atual, falta substância, principalmente na brasileira.

Há ainda o humor físico, com grandes nomes como Jerry Lewis, Jim Carrey e eu cito aqui, Will Smith que é muito competente nisso, o Will por sinal é bem competente em quase toda a gama do humor e eu o acho bem subestimado nessa parte. Mas voltando ao stand up, é um gênero de comédia que pode ter todos os outros em sua composição, e aí dou o exemplo de Eddie Murphy, que em seus show de stand up, fazia criticas contra o racismo, usava de humor físico (as caras dele são hilárias), fazia piada de gozação alheia. Então num único espetáculo ele atingia pessoas com amplitude de entendimento humorístico diferentes e também de diversas idades e classes sociais. Sim, idade e classe social influência muito no que entendemos como humor e comédia, vide comédias besteirol para adolescentes. Eu mesmo passei pela apreciação delas, tirando algumas escatologias bizarras, já ri da maioria disso tudo, conforme fui amadurecendo comecei apreciar mais o humor clássico, que tem algo a dizer além de peidos, palavrões, jargões e etc. E isso, excetuando-se o humor inglês está em falta. Por isso esses stand up shows do Azis Ansari são importantes, pois ele cria comicidade constrangendo quem faz merdas absurdas e não sabe o quão absurdo isso é, obviamente ele também faz humor físico, especialmente facial, mas seus espetáculos tem forte cunho social, não é pra adolescentes, pelo menos não para a maioria. É importante salientar que não devemos nos limitar, nem tanto a um quanto a outro, ainda adoro Chaves, Chico Anísio e alguns pastelões (três estilos de humor diferentes), mas com a abundância da futilidade e o absurdo fato de que as diferenças sociais e o preconceito em algumas esferas ganham ar de lugar comum, é importante que tenha alguém fazendo graça desses absurdos. E só tenho visto comediantes de stand up comedy fazerem isso lá fora, e infelizmente ainda são poucos. Embora no início do boom da comédia em pé no Brasil, houvesse um forte teor de crítica política, isso foi se perdendo, pra piadas de gordo, zueira non sense (que vale salientar é uma forma de humor muito válida, mas novamente, não é a única) e afins. Funciona para a grande parte do público que é mais jovem e que se encaixa num ambiente político nada saudável de polarização que assola o país, e é uma válvula de escape muito fácil, isso sem contar o baixo acesso à produção cultural diversificada do público médio brasileiro. Mas me preocupa que o país tenha que se apoiar em tantas válvulas de escape, futebol, novela e um único modelo stand up comedy. De fato se tudo o que sobrar no país for corrupção e válvula de escape, vai dar razão as piadas de o país descer pelo ralo ou de dar descarga no país.

E só pra não dizer que não falei do show live at Madson Square Garden, são hilárias as tiradas com aplicativos de encontros casuais (tinder) e um ponto em específico em que o Azis pega emprestado o celular de uma espectadora e começa a fazer as piadas em cima das mensagens dela. Está lá na Netflix, assim como o outro espetáculo dele, Buried Alive, que compartilha quase o mesmo roteiro. Fica a dica e até a próxima.

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